Enxergando às cegas
Fechei meus olhos
Numa tentativa desesperada de não ver
Queria poupar-me o susto
Queria proteger minha mente
Salvar meu coração
Mas já não havia proteção
Mesmo de olhos fechados,
Eu enxergava tudo
Já conhecia bem essa história
Cada ato vivo na memória
Arranquei meus olhos
Pois achei que a dor seria menor
Do que, de novo e de novo,
Assitir àqueles episódios de terror
Destinados ao trágico final
Minha surpresa descomunal
Foi descobrir naquele dia
Que, mesmo sem os olhos, eu via
Esse futuro intransigente
E todas as mazelas do presente
Descobri, pois, que nunca tive olhos
Que sempre enxerguei com a mente
Nunca vi as belezas verdadeiramente
As máculas do passado
Serviram de referência para o futuro
Minha alternativa: construir um muro
Empilhando tijolos de dor e frustração
E ele resultou tão alto na minha imaginação
Que poder ver de nada serviria
À frente só havia essa parede fria
Tal qual meu coração