SUFOCANTE

E onde está você agora neste tremido do meio-dia

diluído nos plasmas dos fantasmas da manhã fria?

Onde está a causa desta vida a fim de outras vidas?

Largada na calçada vizinha? Na rua ou na avenida?

E como ferver a neve pelando da sua pele algodoada

que sonho toda entrelaçada, poro a poro, cara a cara,

nos arredores do meu corpo e também da minha alma?

Pouse logo no meu pátio e venha conhecer esta fumaça

do meu vulcão sereno prestes a explodir o seu magma.

E prepare-se para um beijo quádruplo nos seus lábios.

Não me traga caderno e lápis. Nós seremos as palavras

que serão inventadas nesse embate entre duas estátuas

de sal e suor. Tenho de suspender o vagão de saudades.

Vou untar as suas curvas e cobrir e descobrir a sua capa

de fusca rosácea. E morder e ir. E lamber e vir. E andar

sobre as nuvens chovidas em nossa própria tempestade.

Vou irrigar com mel de tangerina os pelos lisos do cabelo.

Mão e mão. Colo e colo. Carne na carne. Medo no medo.