A MORTE DE VÊNUS

Ao emergir astuto — por Gaia

qual cativado — castrara Cronos

o pai, Urano, abscôndito em tocaia.

E assim lhe apossou o trono.

Ei-la! surge dos órgãos, musa; equórea,

do sêmen escumado, esta que era

sob pétalas e luz de cobre arbórea

o cair do inverno, o pôr da primavera.

Zéfiro a soprava, divina — qual

para vossa espádua em declínio,

Hora trouxera um manto floral

a cobrir-me o apetite ígneo.

Nascera casta, pura, bela, Vênus,

cabelos longos, seios pequenos.

Botticelli não lhe dera contraposto,

mas: cachos, curvas, tez, onde nasce,

nívea, par de vosso corpo aposto,

a graça límpida e o dulçor à face

— ''Oh! pudica Vênus, deusa da beleza,

Eis-me a vos obsecrar com mesura,

que quão mais me dispor formosura

mais pura e bela és vossa natureza.''

—''Se lhe cerro o peito e abro cicatriz,

logo deveras nobre é manter-se

calado a dar ouvido ao que esse

teu coração prosopopeico diz!''

—''Se meu corpo ao teu não queres unção,

não és meu porto seguro, meu recife,

manterei o celibato de Pigmaleão

E faço das minhas lágrimas teu esquife!''.

Gabriel Vinicius Alves dos Santos
Enviado por Gabriel Vinicius Alves dos Santos em 29/06/2020
Reeditado em 07/05/2022
Código do texto: T6990869
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