Instruções de bem querer
Instruções de bem querer
a brisa vinha suave, cheirava a sal. encara o jardim, removendo com gosto o interior da flor tremula, através de um talo na noite, fazendo sangrar estrelas, rivaliza até com seus olhos, agitados pelo rio. inexplicavelmente no ar, um entendimento calmo, a visão daqueles olhos no rosto de menino, até parecer seda sobre os tapetes de ráfia trançada, era na verdade lindo, e foi lindo o tempo inteiro. o rio de ouro líquido, em contraste o turquesa contra o rosa e a sensação de que algo, em algum lugar, tinha mudado. enquanto o tango passeava na vitrola, longe de reis e castelos. o mar quando volta pra casa, o junco que se curva ao vento, é sempre Deus, para dizer em voz alta seu nome Elígio, vibrando suavemente seus ‘is’.
abre a porta de deslizar até o fim, desce da beirada do mundo para o jardim e ofega. feito redemoinho súbito de bem querer, engole tudo.
com carinho ao poeta Eligio Moura