EXPECTATIVAS
Afinal de contas
Me excedi em expectativas,
Desde que nasci
Olhei pro doutor
Disse que viveria
E fui levando em tropeços,
Rindo, com os outros,
De mim mesmo,
Mas ria sozinho
E não desisti.
Dobrar a mim?
Devias ter visto
Eu era cheio de sonhos,
Eu dançava com a vassoura,
Me chamavam no diminutivo:
Dieguinho, Dieguinho,
Tão gentis e cuidadosos
De não me quebrar,
Só que é claro:
Eu tinha um coração intocado
No qual, sem intenção, pisaram
E fui virando um rastro
Nunca lá, sempre aqui,
Eu só tinha parte em mim
O que hoje chamo meu-não-estado.
Café-com-Leite,
O que não consegue,
Irmão do Evandro,
Eu, que já não tinha nome,
Criei um mundo e fui inventando,
Os outros curvas e músculos,
Eu tergiversando
Meu círculo minúsculo.
Quando vi a vida passando
Foram os 18 anos,
Amigos formando e casando,
Desventuras e venturas
Eu cheio de expectativas
Que não eram pra mim,
As vezes penso
Se não tivesse lido
O primeiro livro,
Se não tivesse escrito
Aquele maldito verso,
Se não tivesse essa cabeça
Tão desgraçadamente pensante
Quem seria o Diego Ignorante?
Paradoxalmente: cheio de vida
Zero expectativa,
Tudo que viesse seria bom,
Sem horizontes, solidão?
Certeza que não sentiria
Com essa força inexata e violenta,
Seria como essas pessoas
Que giram a roda do mundo pra frente,
Manusearia o caixa, voltaria pra casa
Abriria uma cerveja, talvez fumasse,
O que viesse viria...
Que grande perda sem meus poemas,
Sem minhas vitrines de dores!
Eu me fiz de doido
Quando decidi que queria ser gente
Como qualquer outra pessoa,
Isso me fez empreender guerra
Com quem quisesse me pisar
Ou me tratasse da forma
Que me trataram na juventude,
Eu quis um nome pra mim
Que não fosse acrônimo do meu irmão,
Eu consegui só o que quiseram dar,
Nunca conquistei nada
Nem minha poesia alguma coisa,
Pelo simples fato:
EU NÃO SOU UMA PESSOA,
Faço tanta parte desse mundo
Como capim, musgo,
Se der se tira, corta, lava,
Se não der deixa lá,
Cuidado pra não escorregar,
O chão está liso das minhas lágrimas...
No final o mundo é feito de coisas
Inexplicáveis, mistérios de nós
As vezes impraticáveis, outras só convenientes,
Dessa forma, leniente,
Seria melhor que eu não tivesse nascido,
Assim eu teria ido sem ter chegado
Que é exatamente a forma em que vivo,
Inócuo ao mundo que mói meus ossos,
Como este poema que tenho certeza
Ninguém lerá.
Não importa, afinal me excedi
Em expectativas,
Agora teu terno bom dia
Com aquela carinha
É só mais uma falta
No empilhado de nada da minha alma
Tudo que corresponde a Diego Duarte.