ANTIDIÁRIOS DE JUNHO XIII

Quero sempre traduzir a vida no poema bem bonito,

mas não faço ideia do que de fato significa tudo isso,

esse estado tenso de órbitas inquietas que não se fixam

em formas: os verbos mudam de ação e os substantivos

de motivos. O verso é um artifício, uma reza escondida

que o tempo lapida quando lhe altera toda a engenharia

e a poesia feito um suplemento sensível que deixa pistas,

mas ninguém sabe da cara e nem tampouco onde habita.

Há muito ouço dizer que escrevo algumas coisas repetidas

perdido no círculo vicioso de ter a pretensão de ser preciso

— mesmo que não haja antídoto para o enxofre deste ofício.

Tenho beijos pendurados. Lá no varal roxo do espaço nítido.