Incêndio

Estava na gênese de teu sorriso

brilhando como o fio da lâmina

que compôs o êxodo de tua vida,

Estava no olhar moribundo do ancião

mantido como monumento entulhado

nas calçadas e praças das cidades,

Esteve sempre na honra que é pressuposto

para o gozo de sangue dos fanáticos,

Estava na violência que é o mote escondido

pelo coração do Cristo que levas no peito,

Estava no teu senso de justiça

que é advento de tua sádica crueldade,

Estava nos gritos clamorosos por castidade

como desespero e contenção obsessiva

por tua transbordante perversidade,

Está na inveja de conviver e assistir

aqueles que estão dentro da religião da carne

e exalta o corpo, o sexo, com sobra de coragem

de enfrentar o mundo que te acovardou,

Esteve sempre nas vidas condenadas

pelo lugar que se nasce, pelo sexo que têm,

pela pele que se abre diariamente por séculos

se esvaindo o sangue, os sonhos, o amor,

e tudo que compõe a vida humana

dilacerada no rosto branco da barbárie,

e nesse momento nossa compaixão é sórdida,

despedaçada em assassinatos legalizados,

e a impotência desses privilegiados versos hipócritas

se calam diante da convivência com a morte

feita pela boca daqueles que sempre rogam por paz;

Eu rogo por incêndios.

Leandro Tostes Franzoni
Enviado por Leandro Tostes Franzoni em 31/05/2020
Código do texto: T6963147
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