PESADELO

Este pesadelo que não descansa, nem afrouxa,

cheio de voz áspera e coração insosso,

escancarado na dor, no medo, no vazio.

Pesadelo desalmado, vil, atroz,

de cor amarga, de face mascarada,

dá vontade de arrancar suas vísceras com a boca,

dá vontade de dormir e não acordar mais.

Pesadelo de músculos fortes, decididos,

que nos servem à mesa a toda hora,

que nos ensurdecem com seus gritos de guerra,

que nos chicoteiam até não restar mais carne a bater.

Se tudo passa, isso também um dia desencarna,

levando no cangote tanta gente como eu, como você,

levando nas pegadas a tristeza pela impotência tanta,

levando no seu legado um tempo que nunca se vai.

Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 24/05/2020
Código do texto: T6956789
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