PESADELO
Este pesadelo que não descansa, nem afrouxa,
cheio de voz áspera e coração insosso,
escancarado na dor, no medo, no vazio.
Pesadelo desalmado, vil, atroz,
de cor amarga, de face mascarada,
dá vontade de arrancar suas vísceras com a boca,
dá vontade de dormir e não acordar mais.
Pesadelo de músculos fortes, decididos,
que nos servem à mesa a toda hora,
que nos ensurdecem com seus gritos de guerra,
que nos chicoteiam até não restar mais carne a bater.
Se tudo passa, isso também um dia desencarna,
levando no cangote tanta gente como eu, como você,
levando nas pegadas a tristeza pela impotência tanta,
levando no seu legado um tempo que nunca se vai.