UM POEMA DE VERDADE
Temo a solidão por ordem de fato,
não sou livre para além da minha bolha,
a saudade em mim brota sua folha,
neuro fácil, debato, brigo, sou chato.
Tenho medo da morte e de não estar vivo,
me sinto as vezes reles, as vezes monstro,
tem dias que não sei se consigo,
noutros em que persigo o seu encontro.
Tenho medo de nunca ter felicidade
por desvelo e incompetência própria,
sou refém do segredo que importa
da palavra que raptei com idade:
não sei se consigo amar de verdade,
me perdi na invenção da modernidade,
não tenho nenhuma resposta;
sou um bêbado inveterado,
moro num corpo frágil e fraco
habitante de um espirito orate
que ferozmente se debate.
Não fui nem estou; só permaneço
com este sentimento eremítico
de um dia sermos íntimos:
eu, nossas almas e você.