Dos teus lábios nunca mais nasceu poesia

vestir-me (você)
viver-te (eu)
um chora o outro

paixão de mim
meu eu
de olhos turvos

rasgo as costas das mãos
traída pelo choro

estás por toda parte
mas um não ouve o outro

canto a ânsia de ser rei de nada
de duas sombras amontoadas
num céu inesperado
morro-te sem mim

no mármore da alma lapidada
planto o corpo

tropeço nas flores
pesa em mim o perfume da lápide
o desgastado livro de orações

(sobrevoando o destino encerrado)
 
Vania Lopez
Enviado por Vania Lopez em 04/03/2020
Código do texto: T6880477
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