XLIX
"O tempo é o seu tirano sem requintes",
Em tudo pesa o cetro dessa máxima
Asfixiando as queixas e questões
Dos desafetos -- rédea, rédea às bestas!
Pacificadas as paixões do tolo
Com seu refrão sem ritmo, só rumores,
E andança a esmo no lugar comum,
Paixões vencidas pela destra exata.
Sorrir aos seus patéticos gracejos?
Temer a máscara de dissabores?
Deixar que passe, impune? Trancafiá-lo?
Deixá-lo entregue à sorte e à turba ignara.
"Em tudo possa o sol dizer quem sou".
Verão, qual porcariço atarefado,
Levou seus porcos doentios primeiro,
Levou amotinados porcos, logo,
Levou depois seus porcos mais festivos,
Levou seus porcos da Quaresma, então,
Quando nosso ar pesava irrespirável --
Asfixiado em deixas e senões,
Razão foi o argumento dos perversos,
Contaminados por verdade -- vírus.
O mensageiro chega sem mensagens
Nem desculpa, esperávamos um deus?
O tempo tem polias e engrenagens,
Retificadas estações de dolo
Nessa paisagem má, rasura odiosa.
Do quanto fomos canta a luz primeira.
Do que seremos, nem pesar nem sonho.
Do quanto somos, rio...e tudo flui
Sob céus de cinza em convulsão sem fim.
Em tudo pousa o inexorável fado --
Transfigurá-lo nos umbrais do dia
Como quem corrigisse o horizonte,
"Sem esperança nem temor", eu disse,
Sem avatar e sem auto-retrato.
"O tempo é o soberano das províncias
Do medo" entre a Semana Santa e as Cinzas.
O curso dos eventos tolda auroras
Em tormentas e sangue, ossos dos nossos
E apreensão pelo que virá -- mas quando,
"Quando serão tais coisas?" , não pergunte...
O tempo é soberano, não me engano,
Em cada logradouro obscuro e louco,
De dança mesmo no lugar comum,
E a vida itinerário de dispersos
Dispensa o mensageiro sem mensagens --
O tempo tem polias e engrenagens
E o poema, enfim, quarenta e nove versos.
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