Volúpia do Medo

Sou virado ao avesso
como copo quebradiço.
Uma hora em pé,
outra deitado.
Sou homem de poucos recursos,
sou homem de pouca visão;
Se me perco, perco na hora
Não tenho antevisão.

Sou para-raios da imensidão,
um grão de corpo
em sua mão.

Pois dela velo o augusto,
me permeio, contristo
mas vazio fico
quando parto no meio da noite
a procura do que não é meu.

Nem cheguei às portas da
imensidão
e já sou meio vazio - copo quebrado
avesso a verdade,
titubeante diante dos retratos!

Eles me dizem que fui homem
que já foi;
pérola de criança que menino
se perdeu
no meio do matagal sem trilhas
num mundo sem sol.

Se puder eu grito
e se grito, mais me perco. Se acho
sou sempre o segundo.
O primeiro da vez tem o sentido.

Uma vez por outra sou seu quem fala.
E me ouço e me peço:
trás de volta os perdidos dos
caminhos de ontem;
trás de volta os que me ouvem,
mas não me sentem.

Hoje sou pura máscara, adornada de cetim,
procurando explicação dentro
da resposta.

E como não há resposta, me calo e meu vou.
Vou às 6 ou às 7h, da manhã ou
dentro própria noite.
Porque dentro de meu próprio
corpo já não sei distinguir
entre a volúpia do medo
e as entranhas da ansiedade!
José Kappel
Enviado por José Kappel em 19/01/2020
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