VOLÁTIL

Nunca pude desfazer as malas abertas da minha cabeça,

pois viajo dentro de mim mesmo munido das ampulhetas

sem a areia crua do tempo e do estreito que o movimenta.

Desloco-me de pulso em pulso — de silêncios em silêncios,

entre as estradas do pensamento. Sigo aqui e ali, sedento.

Vou lá e acolá, rabugento. Estou na caça do verso intenso

escondido nas sombras da rede. Farejo o rastro do medo,

na pegada desse confronto elétrico: amperes e incêndios.

Ouço o vento dizer-me, a sós, feito um segredo de estado:

— O poema é artefato de éter… Não tente pôr um cadeado.