SOBRE NÃO MORRER AMANHÃ
não quero morrer amanhã
não sem antes de beber uma
num bar qualquer da escócia
sendo observado pelo monstro do lago ness
não posso morrer amanhã
nem depois de amanhã
ainda não dancei valsa com a amada
nos salões aristocráticos de viena
ainda não fui peregrino
no caminho de santiago de compostela
que triste seria se eu morresse amanhã
não teria tido tempo de morrer de amores
pelo por do sol na pele do mediterrâneo
morrer amanhã não seria tão urgente
como fincar minha bandeira nos alpes
ou derreter na mão aquele sorvete que vi na tv
se eu morrer amanhã
é certo que não poderei mergulhar em noronha
depois de amanhã ou depois da quaresma
se eu morrer amanhã
terei que cancelar a viagem ao nepal
e não saberei como é estar ao pé do himalaia
se eu morrer amanhã
não terei sido flagrado por qualquer câmera
dando piruetas nu na madrugada
que inconveniente seria morrer amanhã
com aquela obra-prima ainda no primeiro capítulo
com aquele projeto mofando na gaveta
com aquela declaração de amor na garganta
que cafona seria morrer amanhã
ser de repente um defunto que mora no além
ou uma fotografia esquecida na parede