Natal

Barriga vazia

Sopa d’água

Taioba com

Tarioba e berbigão a

Fome foi maior

Levando a extinção

Do que se comia

Barra velha na

Linda Ilhabela

Muita fome

Muitos filhos

Para dar o que

De comer e

Amélia inventando

O que por na panela

Mamão verde com água e sal

Cabeça de peixe

Farinha de mandioca

Também com água e sal

E dez filhos para sustentar

A fome dói, no estomago

E principalmente na alma

Nunca entendi a fome

Nunca aceitei a fome

Assim foi minha infância

Fome disfarçada no pouco

Que se tinha para comer

Amélia inventava,

Amélia não contava

Amélia na reclamava

Ninguém conhecia nossa fome

Ninguém sabia de seu tamanho

Também ninguém perguntava

Ninguém visitava nossa fome

Comiamos tudo que podia ser comido

Na maioria das vezes verde antes

Mesmo de madurar, a fome era mais rápida.

A noite antes de dormir minha mãe Amélia

Nos dava água e mandava que fossemos dormir

Para esquecer a fome, Nunca vi minha mãe

Chorando ou reclamando, também nunca,

a vi comendo antes de nós,

E quase sempre não sobrava para seu prato

E assim passei minha infância com muita fome

Nunca roubei, nunca matei, minha fome

Nessa época não sabia o que era natal, isso não existia

O local onde morávamos era tão pobre que ninguém aparecia

Só Amélia seu caminho conhecia.

Assim foi minha infância, sem presente, sem ceia ou papai noel.

Assim era nossa vida, com muita fome e pouca comida.

Mas tínhamos Amélia! Deus não nós desamparou, Deus nos deu Amélia!

E Amélia, dizia, estuda prá mudar isso!

Estudei, mudei minha vida, nunca mais passei fome.

Amélia, minha mãe,

Feliz Natal!