Borboletinhas douradas
Esses brincos pequenininhos que tem ornatos dourados em prata maciça, eles são pra você. Eu os comprei com tanto carinho, mais carinho em troca que dinheiro gasto.
Eu resolvi te dar brincos invés de aliança, ou anel de diamante... ah, eu sei que você vai perguntar o porquê. E eu talvez te fale, talvez te conte dessa coisa meio diferente e meio inusitada que eu fiz.
E eu bem que queria ter uma explicação de poesia, e largo sorriso de menino pequeno brincando no quintal. Na verdade eu só pensei que talvez as suas orelhas tão lindas preencheriam melhor a beleza do ambiente quando usasse tal presente.
E então eu resolvi, como em desatino, como impulso finalmente de menino, comprar pra você.
Eu reparei o brilho quase aderente dos nossos olhos quando eu lhes dei. E você pode até me responder em carta duvidando de como eu percebi, já que em mim, repleto de sombra e carne, meus olhos são grudados, parados... de impossível acesso à mim mesmo.
Mas eu respondo quase que torcendo pra que me engula com os seus olhares de coruja.
E que coisa linda foi ver-te segurando os brincos como se eles fossem algum vinho português, ou como se o ballet da Rússia orquestrasse com os pés, aos teus pés, belíssima apresentação.
E eu resolvi brincar com as palavras, coloquei aquela cafonisse que você conhece; então a música do Chopin tocou. Silhuetas da Sicília ao Norte mais selvagem da África, pequenos arbustos de secas cidades, moscas que comiam a comida no restaurante de Paris, espuma e pêlos, barba, espelho; reflexo, tamborim, Ceará e Itaipu, Londres, neve branca... Nós como estrelas, luzes, apagou?