Devota
(Obs.: Esta é uma poesia que retrata um relacionamento abusivo através da perspectiva do homem. É um protesto, não uma romantização.)
Vos calo em presença
Conforto em ausência
Melhor se não pensa
Ou julgo demência
Do chicote, o estalo
Em tuas costas, o estrago
Pois pisastes em meu calo
E no cigarro, meu trago
Está tudo bem, agora
Me chateia o sangue na bota
Mas perigoso é o mundo lá fora
Portanto vos quero devota
Sem mim, o que farias?
Teus anseios, eu que supria
E teus defeitos, tuas estrias?
Ainda assim, vos trouxe alegria
O quê?! Em minha presença?
Ouve só este estalo!
Que exagero! Será que não pensa?
Quieta você, eu não me calo!
Por que isso agora?
O que não te faço, por que me farias?
Te amo aqui, te amo lá fora
Exibo teu corpo, até as estrias
Sinto saudades, me dói a ausência
Tudo o que toco fica o estrago
Sozinho no quarto me resta a demência
Se tira-me a vida é claro que trago
Queres agora que eu beije tua bota?
Sempre beijei, é o que me supria
Tu que nunca fostes minha devota
Hoje acabas comigo, com minha alegria