A propriedade

A propriedade é a coisa mais triste

Que existe e persiste

Pelos séculos e séculos.

Está na raiz da riqueza.

Está na raiz da pobreza.

A propriedade dá para alguns

O que um dia foi de todos.

Dá certidões legais,

Desde tempos imemoriais,

Quando não havia cupons fiscais.

A propriedade ama a propriedade,

E quando o moleque-ladrão

Faz o roubo bem na rua,

Deixando a moça sem a bolsa,

Todos gritam e correm atrás...

Respeitem a propriedade...

O moleque não se detém,

Nunca será homem de bem,

E no seu caminho está

Um policial à paisana,

Defensor da propriedade,

Essa, sim, não se profana.

Dizem até que aposentado

Mas no ofício tão treinado

Declara a ordem de prisão,

Porém o jovem celerado

Não aceita a ordem não

E lhe responde com uma facada

E só se vê sangue no chão.

Sangue de morte não,

Pois foi só um grande golpe,

Que o braço machucou,

E fez raiva, muita raiva,

Mais que raiva, ódio sim...

Por que tem de ser assim?

E o tiro que queria certeiro

O jovem não acertou...

Foi parar na professora

Querida por seus alunos,

Amada por seu marido,

Adorada por seu filhinho,

Para quem levava presentes

De mais um aninho de vida.

Sangue, sangue se espalha

Colorindo nossas almas...

Sangue, sangue se espalha,

Tirando a nossa calma.

A propriedade devia

Aprender a existir.