O FARDO, A MORTE, O POÇO… E A SORTE

Toda vez que você vê alguém

cuidando ou se ocupando

de um doente, um moribundo

ou apenas um inútil, simplesmente…

O que você diz pra si mesmo

é que ele está a “perder tempo”.

Anos de vida… horas de sono

folgas, oportunidades de sucesso,

minutos de diversão.

Toda vez que você vê

alguém dedicando a vida

a cuidar de um inútil

sem ganhar nada em troca…

você deseja… por ela…

Conhecida, pessoa, parente

ilustre desconhecida e amiga

querida… você deseja por ela,

que o outro durma logo

e não acorde nunca mais.

Está em você, está em seu DNA

e em todos nós...

a vontade de ser bicho, e enfiar

o problemático numa vala

Abandonado a própria sorte.

Pra que ele possa aguardar

a própria morte.

Pois, A LEI… Por mais fingida

que seja… Continua sendo

… a lei do forte… E a lei da sorte.

A sorte de ter na vida

o que se quiser ter…

e todo dinheiro e todo poder

e quem sabe até por muito

muito, muito tempo, não adoecer…

[Você sabe que ficará sozinho…]

Você odeia quem te dá trabalho,

quem te dá cabelos brancos,

mesmo que você o ame,

você o odeia… e você sonha acordado.

Sonha com uma vida livre

desimpedida e maravilhosa,

que você podia ter

se ele simplesmente

o trabalhoso, adoecido,

moribundo, problemático

… morresse logo de uma vez.