VERBOS E INÉRCIA...
A inércia me devoraria se fosse pela minha vontade.
Dormiria feito uma pedra, depois de uma garoa fina.
Se o dia amanhecesse frio eu continuaria dormindo
até que o sol fizesse festa na janela do meu quarto.
A inércia em mim criaria raízes e passaria alimentada
de vigor, abrolharia de mim pelos poros, pelos dedos
das mãos. Faria uma floração, me afetaria de silêncio
e abandono. Eu seria terra boa para essa inercia toda.
Nem era preciso caminhar até a janela, conheço bem
o que há além dela. Pode emendar o dia com a noite;
pode ser tão somente um negror triunfal e duradouro
que me dou bem pelos breus do meu quarto de sono.
Eu sou propício às sombras; sem mim as ruas vivem
bem; os bancos dos jardins não me precisam nem eu
deles. Só não venha roubar os verbos dos meus dias,
Deles é que vivo antes que a inércia me domine todo!