JOIO

Eu via a avó paterna espalhar os feijões sobre a mesa,

na penumbra matutina da cozinha quase toda acesa.

Lembro dos óculos caídos quando mexia a sobrancelha

— colhia as pedras e contava, com a expressão serena,

as verdades da sua vida grande, mesmo sendo pequena.

Vejo agora o coador de pano fumegante e a escumadeira.

E eu estava por ali, fingindo que tudo era uma brincadeira

dos fantasmas ruins que já assombravam a minha cabeça.

Escolho as palavras para um verso sobre a noite de granizo.

Doo o trigo. Escrevo com o joio. E o seu incômodo maldito.