23h40 (ao vivo)

O cenário da noite desmaia na estopa gelada

do céu monocolor antes de virar madrugada.

Vinte e três e quarenta e três e o nó não desata

quando tudo mora nesta fuligem que se acaba.

Faltam quatorze para o rodopio do calendário.

Faltam onze, agora. Sinto de dentro do quarto,

a rajada silenciosa destes dez minutos do prazo.

Escrevo sobre este instante do relógio que marca

o pulso grave das horas. A agonia cronometrada,

feito se o futuro fosse aquele pinga-pinga da água

que surge da torneira e explode no círculo do ralo.

Vinte e três e cinquenta e seis. Sete, na verdade…

Da meia-noite o meu verso vaza quase adormecido.

O poema não me salva… E não me livra do infinito.