COLOSTRO
A noite escreve um poemeto úmido e fresco,
feito se a rima fosse a flor e o verso, o vento
voador no véu violeta vindo deste luar cheio
que divide as sombras dos pratas e dos pretos.
Solto a coleira da alma que rodopia no estreito,
entre os postes escuros e o milhão de morcegos
da árvore velha sobre as vias públicas do passeio.
Vejo-me a mim mesmo de cima do morro cinzento;
os passos tortos. A fumaça consumida. E o lenço
que a toda hora é passado nas frontes e no queixo.
Percebo a nuvem de signos e uma guerra sangrenta,
onde o colostro remoso é o pior inimigo do poema.
Volto para o corpo maciço, pois é curto este momento.
Finjo que não entendo o mundo. Mas eu não entendo.