DISTRAÍDO

Depois de uma tarde toda chovida,

a noite paira e magenta e ametista

dispara o vento da rajada intumescida

que penteia as fitas da parte anímica

na encruzilhada repleta da ladeirinha.

Sinto o perfume que percorre a avenida

(do dendê, da vela escorrida e da galinha

posta entre o alguidar e as taças de sidra)

e observo os espíritos que comem da farinha,

bebem no bico da bebida e fumam da cigarrilha.

Nunca consegui compreender o que balbuciam,

enquanto flutuam sobre o banquete e as bijuterias.

Qual o motivo ou segredo que a fé, ali, deposita?

Ou o caso em que as almas se debatem na guia?

Será que discutem um pedido e, assim, o avaliam?

Quem baterá o martelo no tribunal de uma esquina?

Passo quase perto do pano e um deles me vaticina:

— Seu merda filho da puta. Por que está vivo ainda?