CÁ
Ah, se não fosse esse vento
— ora furioso ora ameno —
para aliviar, feito um unguento,
a espinha elétrica do pensamento.
Ah, se não fosse esse movimento,
essa interseção de ângulos avessos
ao que move as pedrarias das nuvens
— do hidrocor ocre em volta que surge.
Vem sem aviso quando vira a esquina
e traz este perfume melífluo do meio-dia
— o dulçor do elixir sentido da cana moída
das barracas vindas do lado de lá da linha.
Engasgo com o bolor tóxico da rede faminta.
Estou cá, ventado. Entre uma e outra mentira.