PUBLICAÇÃO NA COLETÂNEA (impressa) DA CASA DO POETA LATINO - AMERICANO – CAPOLAT 2019

– Do livro inédito O CAOS MORDE A PALAVRA, a Poética da Contemporaneidade:

PÓS-MODERNIDADE E LINGUAGEM POÉTICA

A peça poética da contemporaneidade caracteriza-se pela metáfora profunda ou vertical, que produz uma multifacetada imagética. Tudo nela é sugestão ao pensar. Alta densidade de codificação, vitalidade do sentido conotativo da linguagem. Síntese verbal, economia vocabular. Fuga à ortodoxia do verso, preferência pelo formato linear.

A FLOR

Condenado ao pensar, sou o orvalho que lhe é essencial. Respiro e a admiro. Ela percebe a fotossíntese na seiva.

AVAREZA

Amar é ação reflexiva. Possuímos a nós mesmos dentro do Outro. E deste se pretende sonhos e mais entregas.

BRINQUEDO

É na palavra que mora a Poética, embora o usual jogo do beija-beija. Após, metade é para além do corpo.

EXPOSIÇÃO

Limito-me a criar o poema em estado de inércia. O que sobrevir no outro é o estético bem ou maldisposto.

CORAÇÃO ALADO

Poética não modula sombras, que subtraem o que dói e oprime. Sem vírgulas: preceitua comove e tatua.

CORDEL DE AURORAS

É de sonhos o futuro. Manejo esperanças, ventos e os segredos das pipas. Longos rabos ao vento.

LOAS

Rendo-as ao alter ego, quando ele cria o poema para o leitor, não a matéria inerte do verso auto-endereçado.

AS PERDAS

Quanto mais caminhamos em direção à finitude, mais elas se acumulam. É o preço de viver algum tempo além.

CANTATA

A Poesia é a tentativa de aclarar o mundo ao alcance de nós através do caos de viver pela e para a palavra.

CATARSE

A purgação das paixões reprimidas propicia o vir a ser da Poética. É por ela que o Mistério se faz palavra.

CATARSE I

Liberação de situação opressiva. Pode eclodir em estado de Poesia. O caos morde a emoção, fazendo-se poema.

CAUTELA

Ainda que com tímidas ações, urge dar azo à solidariedade. Não despertemos o dragão do Mal dentro do outro.

CONVICÇÃO

Quanto mais mergulho na Poética menos adquiro respostas. Tenho dúvidas até sobre o todo que me convence.

COOPTAÇÃO

O leitor é o meu alvo e alimento. Nas postagens, é só estar atento ao número e ao teor dos comentários.

FINITUDE

Sempre, desde a tímida fonte, urge ao remador na turgidez do rio. Ímpia aos olhos é a urgência de voltar.

O MEU PASTOR

Endosso o Absoluto à guisa de abrigo. Medida exata quando mais/menos costuro certezas nisto ou naquilo.

ALÉM DO CORPO

Sobreviverá minha Poesia, esquálido fio de linha suturando a ferida. Talvez o sopro do Imponderável.

DE ALCOVA, A OUSADIA, excertos:

De há muito, soluço de sono, o mar roçando a língua na praia. Vontade de dormir com ela no movimento da noite.

Monto o destino num cata-vento de açúcares. Espero a chave de teus pudores. A carruagem tem cavalos alados.

O amar, uma escova tímida de enigmas. Azul, o amanhã sob um novo céu. O vale, úmido. Começávamos a escrever memórias.

Penetra-me, sussurra a alcova. Arde a lareira na pele. Cospe, cospe mais, prenhez de braços. Labaredas dançam. Bocas são pontas de aço.

Virgem. Sussurro de pardais quando a tarde morre. O ardil do estranho tange o ninho. Âncora dos sonhos de futuro.

Selvagens ginetes adejam no jogo da vida. Minúsculo leito de sombras e cortinas. Surdas revelações ao olfato.

Desejei copular a felicidade, cochicha o assombro. Estranhezas. Insólita costura no vazio das esperas. Esferas. Dói o calo de viver.

Coração de desejos. Chegarei com fome. Confesso, sou antropofágico. Algum mal em ser carne e mesa?

A paixão confidencia. Canto sua fala. Amanhece a quietude do dia – que é este o único festim.

Prefiro morrer quando ela vem. Salvados do devir. Venha o que vier. O Absoluto a me amparar no que sou de criatura. Transcende.

O que seria de nós sem essa centelha. Neurônios. Ah, o corpo e seus insondáveis mistérios!

A Poesia é o lenho do coito não concedido. Abre-me o chacra em conchavo e me concede, ó dama irrevelada!

Chegaste a tempo. A ausência ansiava entranhamentos. O pouso da lascívia. Vórtice entre coxas.

Quem ama, mesmo sem saber, tem na alma as vozes da ventania. O desejo.

Liberte-se a vontade e os riscos do querer. Só os fracos fogem deles. Fragilizam-se.

Zunem abelhas e arde o recluso território que não pensa. A rainha pica a memória da epiderme, em alcova.

Dói o que em mim não pensa. Nem a poética sustenta. Abraça-a, no silêncio.

O que fazer da Poesia gasosa que nasce prematura ao gozoso gesto?

Possesso pela compulsão na conivência poética sou um condenado à farsa da felicidade.

– Do livro inédito POESIA DE ALCOVA, 2017/19.

https://www.recantodasletras.com.br/poesias-sensuais/6678180

DADOS DE VIDA E OBRA DO AUTOR:

Joaquim Moncks nasceu em Pelotas/RS, em 29/09/1946. Tenente Coronel da Brigada Militar (PM) do Rio Grande do Sul, reformado. Advogado. Escritor. Ativista Cultural. Conferencista sobre temas de Cultura e Poesia. Deputado estadual constituinte, 1987/1990. Dez (10) livros publicados desde 1979, a ressaltar o de poemas BULA DE REMÉDIO, de 2011, e OFICINA DO VERSO: O Exercício do Sentir Poético, vol. 01. Porto Alegre: Evangraf, 2016, 167 p., obra paradidática em que são apresentadas várias nuanças da poética e do processo estético-criativo brasileiro. Membro titular: Academia Sul-Brasileira de Letras, Pelotas, 1995; Academia Literária Gaúcha, Porto Alegre, 1995; Academia Rio-Grandense de Letras, Porto Alegre, 2014; Academia Internacional de Artes, Letras e Ciências, Cruz Alta, 2014. Academia de Letras do Brasil, Secional BA, Salvador, 2015. Academia Brigadiana de Letras – ABriL, Porto Alegre, Jun2019. Academia Internacional Sul-Lourenciana de Artes e Letras – AIL, São Lourenço do Sul, Ago2019. Da Casa do Poeta Rio-Grandense, Porto Alegre, 1977. Da Casa do Poeta de Torres, 2003. Da Casa do Poeta do Casa do Poeta do Vale do Mampituba, Passo de Torres/ SC, 2018. Da Estância da Poesia Crioula, Porto Alegre, 1983. Da Academia de Letras do Brasil – ALB, seccional de Salvador/ BA, 2014. Membro titular na Academia Maçônica Internacional de Letras – AMIL, Set2011. Senador da Cultura pelo Estado do RS ao Congresso da Sociedade de Cultura Latina do Brasil – SCLB, São Luís do Maranhão, empossado em julho de 2018. Desde 2003 é o Coordenador Executivo da Casa do Poeta Brasileiro – POEBRAS Nacional, confederação líder do associativismo literário, com 79 sedes municipais em 20 Estados da Federação Brasileira. Oficineiro de Poética com método próprio de oficinação de Poesia para estudantes e escritores-alunos. Endereços eletrônicos: joaquimmoncks@gmail.com ; http://www.recantodasletras.com.br/autores/moncks ; https://www.facebook.com/joaquim.moncks ;

(51) 98122.8261- Whats App

https://www.recantodasletras.com.br/poesias/6769346