NÃOS

Ouço os nãos do domingo ensolarado

de dentro das paredes do meu quarto.

Aqui não tem mar. Ou paz. Ou cachaça.

Há somente o silêncio de uma palavra

escorregadia entre os rodapés de miasmas

que circundam a penumbra deste quadrado.

Ouço os nãos agudos da televisão desligada

e do rádio calado sem a pilha que lhe dá a fala.

Tem vez que sou feito de uma autoengrenagem

que, num solavanco irritado, destrói as carnes

e avança sobre os órgãos sem dó nem piedade

— esta morte não é mais o que mais me ameaça.

Apenas o que falta é caminhar para o outro lado,

só e farto — de dentro das paredes do meu quarto.