ENTRE TANTOS VERSOS, UMA POESIA
De tanto ouvir e ler sobre a lua, as flores, sonhos e amores,
procurei o poeta em minh’alma, desenhando minha própria poesia.
Mas não chorei a lua, não dei flores, não sonhei a vida e tão
pouco morri de amores. Pudera eu, emocionar-me a cada verso e
fazer fluir meus sentimentos, por corações outros, em cada letra
que percebo. Pudera eu ser mais poeta, caminhando pelo inconsciente, desbravando a dor e a paixão, para livrar-me dos impulsos que me
inflamam. Tantos gritos me acordaram e nenhum que me despertasse
a vida, pelo menos como cantam os ventos da noite. Tantos
olhares perdidos, tanta fúria em cada rima, enquanto o espírito
só enxergava o medo e do medo, a repetida história do vazio. Tantas
lágrimas caídas na solidão de um carinho, sem que nenhum sorriso
se precipitasse num chamego. Mas a imaginação cedeu, ampliou-se,
e a poesia se foi na correnteza, e ficou a certeza, que, antes do beijo,
a presença. Antes do crepúsculo a loucura, antes do gozo, a vontade e
antes da morte, o caminho. Porque para criar é preciso saber o que
realmente se quer fazer. Só de criar uma única poesia no
coração já me faz acreditar no poeta que imagino ser.