ENTRE TANTOS VERSOS, UMA POESIA

De tanto ouvir e ler sobre a lua, as flores, sonhos e amores,

procurei o poeta em minh’alma, desenhando minha própria poesia.

Mas não chorei a lua, não dei flores, não sonhei a vida e tão

pouco morri de amores. Pudera eu, emocionar-me a cada verso e

fazer fluir meus sentimentos, por corações outros, em cada letra

que percebo. Pudera eu ser mais poeta, caminhando pelo inconsciente, desbravando a dor e a paixão, para livrar-me dos impulsos que me

inflamam. Tantos gritos me acordaram e nenhum que me despertasse

a vida, pelo menos como cantam os ventos da noite. Tantos

olhares perdidos, tanta fúria em cada rima, enquanto o espírito

só enxergava o medo e do medo, a repetida história do vazio. Tantas

lágrimas caídas na solidão de um carinho, sem que nenhum sorriso

se precipitasse num chamego. Mas a imaginação cedeu, ampliou-se,

e a poesia se foi na correnteza, e ficou a certeza, que, antes do beijo,

a presença. Antes do crepúsculo a loucura, antes do gozo, a vontade e

antes da morte, o caminho. Porque para criar é preciso saber o que

realmente se quer fazer. Só de criar uma única poesia no

coração já me faz acreditar no poeta que imagino ser.

Jose Carlos Cavalcante
Enviado por Jose Carlos Cavalcante em 16/03/2005
Código do texto: T6769