SUTURAS
Suturo os cortes profundos das lâminas do dia
— com a agulha suja do tempo e sem anestesia.
Ponto a ponto a linha do poema cirze a melodia
oculta de um timbre que circunda a engenharia
da alma. Não ranjo os caninos e nem as feridas
(não há sangue, miolos, pus, músculo ou espinha,
mas sim mágoas, arrependimentos, dor e mentiras
que são as verdades do espólio vazio de uma vida)
e costuro a solidão no laço da saudade que me consome.
Passo clorofórmio — e coisas que não ouso dizer o nome