UBÍQUAS
E o tal meu não pensar em nada não existe,
enquanto houver um poema e o seu timbre
escondido atrás daquelas quatro cortinas
que parem do vento e de novo engravidam.
Ouço o livro, leio o rádio e acesso o aplicativo
com a notícia de ontem, neste hoje, repetida.
Assisto aos canais do satélite, porém é o filme
do verso o que me intriga. Qual é o seu motivo?
Vejo as sombras anônimas que andam pela casa.
São translúcidas. Roubam a cor do fundo da sala,
mas não falam. Se beijam, mas não se abraçam.
Sussurram com as mãos e tecem no ar as palavras.
Surge o minuano ríspido e uma delas me confessa:
são ubíquas e não bebem do mesmo copo do poeta.