você não entende nada e eu não vou te fazer entender
disse ele que o tempo era o seu guia
eu disse que o tempo,
objeto do meu mais desesperado desejo,
perpassa por entre os nós de nós mesmos
desatando-os ao som do violão de Tárrega
disse ele que o tempo é a sua escola
o tempo, por quem ardo e não vejo,
é um agente que nos consome a massa
com seus dentes de medo
ele te afasta de mim aos poucos
ele disse ser o tempo um senhor
de olhos verdes e cabelos brancos
um compositor de destinos
seu pai, amante e amigo
o tempo, estrela que me beija
em pensamento,
é um ser indefinido
um deus-poema:
ajoelhai-vos!
ele e o tempo
são ridiculamente iguais
eu sou a ameaça maligna
força fluida, líquida
seus impulsos nervosos secretos
o id do universo
faço aqui esta oração
para gravar num disco voador
e mandar para o espaço
para brilhar no céu da minha cidade
e, quando eu voltar,
verei que eu não te conheci
e agradecerei aos céus por nunca
ter te dado tempo para se apaixonar