Outro porre de insônia, regressão aos anjos caídos
Pesco e mergulho no mar dessa ateia
E me perco no emaranhado dessa teia
Meu próprio peso nos ombros me aterra
Sigo preso na aldeia onde ainda há terra
Ao mesmo tempo a luz lunar lembra a Terra
Perdi o senso, não sei se estou escravizado em Persa ou Atenas
Conversando com Ésquilo, sufocando Prometeu com duras algemas
Ou talvez outro tragediógrafo qualquer que me atribui densas penas
Enquanto balanço voando livre com o vento como as leves penas
As leves pernas correm dentro do círculo retangular em ar aberto
Dante Alighieri nesses dias quentes tem me acompanhado quieto
Depois Woody Allen ao anoitecer cai como floco de neve sob meu teto
A alma oscila entre dias quentes e noites frias como o clima do deserto
Se arranco todas tuas máscaras ainda existe algo vivo aí dentro?
Ou só um eu disperso? O qual some pelos belos ares que trazem fantasmas
Cavo teu interior e mesmo assim me vejo no fundo cada vez menos imerso
Se tornou o homem-espelho que só reflete outros, como o sol nas placas...
Meus desassossegos invadem teu sistema fraco como a larva da teníase
Ando pelos teus órgãos, rastejo por tuas frestas tênues, ouço os timbres
A voz dela relembra tríades, admiro até suas crises femininas tão ríspidas
Por que minha mente sempre associa à raiva minhas paixões tão tímidas?