Denunciação Silenciosa

Nada fica em seu lugar - o vento não guarda segredos.

É o vento que se encarrega, com eficácia, de levar o tempo.

Qualquer sopro humano não enfuna a inquietação de viver,

Nem mesmo a fúria de loucura mansa, nada pode alcança-lo.

Vão-se os dias, as horas, os milhares de minutos e os anos de vida.

E na mente envelhecida ficam meras imagens, máscaras anêmicas.

E com toda certeza os fracassos, sucessos, tristezas e alegrias,

Aguardam o momento de serem encerradas na mesma sepultura,

Pois tudo passa a ser postura irreal de aceitação/ou não.

É o acordar pela manhã com a parte fria da cama,

Sentindo a falta de quem se foi – uma forma de amputação.

É sentir a dor convencional do abandono, o deserto humano desolado.

É o caminho longo e silencioso, como de fuga, espiando a noite,

De onde saem velhos sonhos, sempre correndo com medo do vento.

É a impossibilidade de fuga diante da vida e do implacável tempo.

Se tudo isso é aceitação, é hora de abandonar a janela que dá para vida,

Dirigir-se com resignação para porta que nos leva à eternidade.

É o que nos faz romper o manto frio de um dia de inverno sombrio,

Pois nada fica em seu lugar, o vento e o tempo não guardam segredos.

Laerte Creder Lopes
Enviado por Laerte Creder Lopes em 18/09/2019
Código do texto: T6747862
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