Denunciação Silenciosa
Nada fica em seu lugar - o vento não guarda segredos.
É o vento que se encarrega, com eficácia, de levar o tempo.
Qualquer sopro humano não enfuna a inquietação de viver,
Nem mesmo a fúria de loucura mansa, nada pode alcança-lo.
Vão-se os dias, as horas, os milhares de minutos e os anos de vida.
E na mente envelhecida ficam meras imagens, máscaras anêmicas.
E com toda certeza os fracassos, sucessos, tristezas e alegrias,
Aguardam o momento de serem encerradas na mesma sepultura,
Pois tudo passa a ser postura irreal de aceitação/ou não.
É o acordar pela manhã com a parte fria da cama,
Sentindo a falta de quem se foi – uma forma de amputação.
É sentir a dor convencional do abandono, o deserto humano desolado.
É o caminho longo e silencioso, como de fuga, espiando a noite,
De onde saem velhos sonhos, sempre correndo com medo do vento.
É a impossibilidade de fuga diante da vida e do implacável tempo.
Se tudo isso é aceitação, é hora de abandonar a janela que dá para vida,
Dirigir-se com resignação para porta que nos leva à eternidade.
É o que nos faz romper o manto frio de um dia de inverno sombrio,
Pois nada fica em seu lugar, o vento e o tempo não guardam segredos.