GENI
Pode ser bem fácil desacreditar da vida ou do dia
que amanhece teimosamente; e mover as janelas
da casa. Mudar os raios de lugar. Cobrir as gelosias.
Esconjurar o espírito. Ou preencher de breu as frestas.
Entretanto estou aqui há muito tempo. Junto da farinha
crua do beiju. No ralo fino das entrelinhas distraídas
do vapor temperado desta tarde absolutamente anímica
que asperge, entre os vãos das horas, o elixir da agonia.
Estou preso sem algemas em arquivos cheios de versos
sem poemas. De riscos e rabiscos. De linhas e cadernos.
Cruzo a piracema seca na penumbra da fumaça da esquina.
Sou o alvo dos dedos. O poeta que apodrece sob as línguas
dos inimigos vestidos de amigos e de suas maldosas alegrias.
Fico na estação da palavra. Ao lado daquele fim que se inicia.