O que cria a criação? Caos, amor, loucura e pudor
Por essa janela
Vejo homens no trabalho,
Palavras de ego inflado ao meu lado
E eu só rezando pra que esse vidro quebre logo
Espero que o céu caia
Ou que o sol por algum acaso não nasça
Minhas asas procuram refúgio no quimérico infinito
E esse relógio me testa a paciência, no círculo cíclico é onde habito
São tantos "eus" que desconheço o autêntico
Penso em Sêneca, na morte ou em algo micênico
Meus sonhos perdoam minhas ações do inconsciente, onde mora minha mais pura verdade
Agora escondida embaixo dos tapetes, dentro de gavetas, encobrindo meus erros e me sujando por dentro, o sereno deixou de ser ameno faz tempo...
A chuva leva pelo ralo o que ando temendo, tentei apagar os fatos
Um erro tremendo, vejo-me ainda distante da eterna vivacidade
Precisaria viver isso repetidas vezes pra entender algo sobre realidade
E sobre isso sei que muitas vezes relativizo, mas será que de fato é mais real quem sabe uma aproximação da verdade? O oposto faria sentido...
Não entendi seus truques inocentes pra viver nesse baile de máscaras sôfrego
Porém todo o amargo já passou, acendi alguns cigarros a caminho do centro
Qualquer esquina pode ser reconfortante pra quem sempre sentiu esse despertencimento em todos bons lares, nenhum lugar me protege de mim mesmo, aceitação, lamentos em todos maus bares!
Deixo de fazer de mim o meu próprio abrigo, desgasto a alma enferma, procuro um lugar mais vazio, compatível com o humor soberbo
Entendo esses rabiscos, desapego aos traços finos
Escrevo por linhas tortas, já que sou dono desse destino
A vida não desata os nós, minha linha se desenrola por um gato indiferente
Que brinca com as linhas de costura como as ideias brincam com a minha mente
Retrocedendo os atos na tentativa de definir os termos ou calcular os eixos
O resultado é mais satisfatório quando é imprevisível, dispenso meu ato cênico, programado, desalentado...
Prefiro devanear nos trechos desse romance inacabado
O mistério é sempre mais atrativo que o suposto conhecimento estabelecido, abalo as bases do comodismo conceitual nesse ímpeto
Cada dia mais quebrado como o piso do meu pátio...
Cada dia mais esmagado e sem ar como as flores mortas, decompostas embaixo do asfalto...
Cada dia mais sufocado como os bueiros da avenida...
Cada dia mais plástico como o oceano e essa comida...
Cada dia mais inflamável, solúvel e poluente como essa gasolina, pego mais um maço do posto da esquina de casa, escolhi o caminho mais duro, tento enganar o deus da Morte como Sísifo, um mortal tão pífio, falível...