PAGÃ

A ebulição fria das palavras.

A agonia dos pés acelerados

que batem quase mais lentos

do que o coração e mais rápidos

do que o relógio de um outro tempo.

O iceberg quente da poesia.

O inesperado gelo nas escápulas

que estalam quase mais agudas

do que as ilhargas e mais profundas

do que o tutano na espinha da coluna.

A holografia barata do poema.

O vácuo amplíssimo das vísceras

que apodrecem quase mais ágeis

do que merda na vala e mais doídas

do que uma adaga furando a sua ferida.

O mistério da gênese aleatória da escrita.

A eletricidade da cabeça dentro da usina

que funciona muda e quase mais escondida

do que as sete cores na luz longe do prisma:

onde nasce a linguagem. Sem batismo ainda.