Psicologia de um náufrago refugiado, livre de âncoras

Mesmo secando os prantos

Sei que desviei dos tormentos

Agora minha alma é um cântico

De lembranças levadas pelo vento

Pesa em um instante como uma vida inteira

Vivida, um soco sem mão nem marcas na carne

Assim sigo o labirinto infinito, pulsar fora do ritmo

As badaladas coordenam minha mente, tique-taque compulsivo...

O barulho passa, passa outra vez

Quem presta atenção demais enlouquece

Pensa como uma engrenagem defeituosa infectada com os padrões de fábrica, espectador da própria identidade

Vive breves momentos de sanidade, sentiu e enxergou as amarras num súbito de lucidez, domingo à tarde...

Hoje vive os dias deitado, escrevendo, bêbado, fumando um maço por dia, chorando no banho, jogado nos cantos

Um rapaz fora dos moldes usuais, mas triste, desesperançoso, meio estranho!

Talvez esse seja o rumo que sonhei, liberdade é não ter leis, ser seu próprio rei,

Continuarei a saber contente que tudo acerca do mundo nunca saberei

Transformar sua realidade em uma tela, pintá-la com o sangue dos deuses

E fingir feliz que sabe de tudo, quando no fundo é quem mais duvida do mundo

Sim, eu sei, eu sei, não me diga de novo que é no hábito e no impulso que residem meus erros

Entrando em ruas sem saídas, buracos de minhoca sem fundo

Levitando mentalmente em buracos negros, sonhos embaçados, nítido bloqueio

O que fez o íntimo ser tão atrativo pro alheio? Uma fantasia do real reflexo que vejo

Nas suas máscaras derretidas no sol reluzente que reflete os medos e derrotas transparentes

Suportei essa carga dos conflitos me espetando no peito, agora faço a água de espelho

Escorreram todos excessos pelo ralo enquanto eu tento escapar das decisões em todas maçanetas

que abrirei

em qual delas estarei

quando esse mundo se cansar das voltas?

batendo as botas

enquanto isso mato tudo de morto que há no meu corpo pra viver mais um pouco

conscientemente culpo causas externas pelo meu sufoco

não enxergo nada, cego temporariamente

não saio de mim para enxergar tudo que há aqui dentro

e que ninguém está vendo, mas que posso ver casualmente quando ninguém me vê, sorrateiramente...

Sombra Victorino
Enviado por Sombra Victorino em 28/08/2019
Reeditado em 09/12/2019
Código do texto: T6731702
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