SOBREVIVENTE
Na pior das hipóteses, sou um sobrevivente.
Soçobrei aos escombros de mil naufrágios.
Fracassado? não! - venci todo o fracasso.
Flutuei por eras nas marolas e tempestades
Venci batalhas, eu sei, - nunca as guerras!
E fui vencido, eu senti, - por muitas feras.
E fui derrotado pela vaidade e pelo medo.
Mas não me entrego! Sou um guerreiro,
Nascido índio, no tremor das trevas
E embalado na diáfana e destemida Luz.
Não temo o tempo, muito menos a morte certa!
Se esta pode enfrentar a vida e derrotá-la
E sendo a vida a dádiva mais cara
A morte é uma senhora a ser respeitada.
Não temo a morte!
Como nunca temi a vida!
São ambas filhas dos mesmos pais,
E andam juntas, como as amigas
A murmurar segredos e seus mistérios.
Vão assim, como adolescentes em uma via
de mãos dadas e atrevidas.
Uma, a vida, a parir enfermos,
Outra, a morte, a curar dementes.
Aquela, a vida, a acordar da morte,
Essa, a morte, a acordar da vida.
Seguem assim, as duas amigas,
Pelas seculares e universais pradarias.
Se um dia morre a vida,
Morre a morte, abandonada!
Se a morte sucumbir primeiro,
Fenece a vida ensimesmada.
Na pior das hipóteses, sobrevivi
aos muitos filósofos e aos meus médicos,
e aos métodos pueris de enganar a morte
Sem ao menos, entender a vida!