SOBREVIVENTE

Na pior das hipóteses, sou um sobrevivente.

Soçobrei aos escombros de mil naufrágios.

Fracassado? não! - venci todo o fracasso.

Flutuei por eras nas marolas e tempestades

Venci batalhas, eu sei, - nunca as guerras!

E fui vencido, eu senti, - por muitas feras.

E fui derrotado pela vaidade e pelo medo.

Mas não me entrego! Sou um guerreiro,

Nascido índio, no tremor das trevas

E embalado na diáfana e destemida Luz.

Não temo o tempo, muito menos a morte certa!

Se esta pode enfrentar a vida e derrotá-la

E sendo a vida a dádiva mais cara

A morte é uma senhora a ser respeitada.

Não temo a morte!

Como nunca temi a vida!

São ambas filhas dos mesmos pais,

E andam juntas, como as amigas

A murmurar segredos e seus mistérios.

Vão assim, como adolescentes em uma via

de mãos dadas e atrevidas.

Uma, a vida, a parir enfermos,

Outra, a morte, a curar dementes.

Aquela, a vida, a acordar da morte,

Essa, a morte, a acordar da vida.

Seguem assim, as duas amigas,

Pelas seculares e universais pradarias.

Se um dia morre a vida,

Morre a morte, abandonada!

Se a morte sucumbir primeiro,

Fenece a vida ensimesmada.

Na pior das hipóteses, sobrevivi

aos muitos filósofos e aos meus médicos,

e aos métodos pueris de enganar a morte

Sem ao menos, entender a vida!

GUI MENDEZ
Enviado por GUI MENDEZ em 09/08/2019
Código do texto: T6716154
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