SETEMBROS

Vão-se os setembros da minha vida, passando.

Entre árvores e ninhos, pássaros acasalando,

e brancas nuvens no Oriente, preguiçosamente horizontais.

Oriento-me pelas paragens, únicas paisagens

que os setembros puderam me presentear.

Invisto sempre para que os novembros não cheguem

assim tão depressa e observo as úmidas manhãs

nas aragens primaveris, lembrando meus primeiros

dias de infância e o acalento do colo de mãe.

Os setembros de minha vida são meu ápice anual

a encantar-me com a sonoridade do marulhar do rio

e os arrolos que cativam o mais sombrio dos seres.

Vou seguindo pela sobriedade setembrina

e da sinceridade na explosão da vida

e do acasalar da verdade única e despojada.

Nesse setembro - ou em qualquer outro!

um dia assim, cristalinamente maravilhoso

nascerão também asas e penas em mim!

Num setembro assim, voarei entre as luzes

e pelas sombras das quaresmeiras e dos ipês

contrastando com todos os azuis celestiais!

Num setembro assim, em paz,

aninhar-me-ei noutra vida, em festa,

e voarei de saudades desta.

GUI MENDEZ
Enviado por GUI MENDEZ em 09/08/2019
Código do texto: T6716151
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