1940
Sou um assombro de espírito, de morto.
Um expedicionário. Caiu em 1940
e não condensou até a guerra cessar.
No dorso, em vértebra crua,
queima um estilhaço acre de calibre ainda amargo; e nos nervos, haustórios e veios de anosa aspereza.
Engolido no suco gástrico dum corpo convulsivo,
Atravessa a noite
Sempre carcomido nos joelhos,
nos dedões e dentes -- submerso em ácido clorídrico e sempre nauseante.
Moribundo que foge à carne e parasita outra pele. Nauseabundo.
Covarde.
Temo a casa e temo as ruas.
Temo a rua como temi o front e tremo às trincheiras.
Temo a casa como tremi na trincheira e
Temo os brados do bule que assovia:
Augúrio sonial de guerrilhas incorpóreas.
Carrego-vos às costas, todos vós, colegas de fumo e água cálida.