Retirante de si
O menino anda em linha reta, mas não sabe se é a certa..
o menino olha, nega...
pede trégua, mas vê légua...
terras e mais terras de uma estrada sem fim.
O menino anda em linha reta, sem rumo, sem meta;
sem olhos de quem vê destinos:
desatinos, apenas...
reversos.
O menino peca.
Pede, nega...
ora, abnega...
e resolve fugir.
O menino é um menino..
e sabe que é.
Mas tem um mundo nas costas....
e um rio a transbordar os olhos....
O menino anda...
já sem reta
já sem linha,
já sem trilha....
apenas anda, porque não sabe
se parar,
aonde ir?
O menino reza....
uma reza silenciosa,
sem fé,
sem dó
de si...
O menino não tem lei,
nem rei,
nem paz...
nem colo de mãe
ou do futuro....
O menino pára:
mas não descansa.
Cantarola uma marcha
[fúnebre?]
cega....
O menino nega, nega, nega...
mas alguém acredita?
Nem a vida...
Ele tem cargas demais por trás...
Ele traz
a dor...
os ossos puros de quem já desistiu da dor,
do medo,
do frio...
do ódio,
do rancor...
Traz os olhos - transbordantes rios...
traz a lama nos pés descalços e ressabiados.
O menino, meu Deus
é só um menino cego
em busca.
Inês Martins