LAMENTOS DE UM VAQUEIRO
Como é triste
Ver-se um vaqueiro
Sentado à sombra
De um juazeiro.
Sempre olhando
Para o tabuleiro,
Pedindo a deus
Pra leva-lo por inteiro
Só de olhar os matos feios
Se acaba meu coração.
Quanto ao cavalo,
Antes grande campeão
Correndo dentro dos matos
Sem medo da imensidão
Da morte ou do barbatão.
Hoje falhado
Magro, velho; acabado,
Podendo nem com o jibão,
O vaqueiro no pé da cerca
Reparando todo seu gado
E seu cavalo ao seu lado
Batendo o pé no morão
Como quem dar se um recado,
Só de olhar os matos feios
Se acaba meu coração.
O vaqueiro se lamentando
Como eu irei viver ?
Sem o cavalo
Sem o tabuleiro,
Sem o barbatão,
Sem nem mesmo a plantação,
Só de olhar os meus colegas
Correndo alegres
Dentro dos matos feios,
Se acaba meu coração.
Estou velho e acabado,
Não posso mais correr nos matos
Nem mesmo pegar nos arreios,
Sentado olhando com os olhos
Cheios de lágrimas vendo o meu torrão,
Só de olhar os matos feios,
Se acaba meu coração.
Pois aos olhos de hoje,
O sertão quase não tem mais valor,
A um vaqueiro sem pudor,
Me fizeste essa traição,
Só de olhar os matos feios,
Se acaba meu coração.
Hoje já estou velho
Não rolo mais em cima da cela
Não arranco pé de favela
Por dentro dos tabuleiros,
É de perder minha razão
E só de olhas os matos feios
Se acaba meu coração.
Hoje em dia não arrasto
Nem mesmo uma morena
Pois me acho com fraqueza,
Não tenho mais alegria
E também eu não sou mais respeitado,
Hoje eu só arrasto sapato
Por cima da pedras do terreiro
Nem mesmo levo
O meu nome de vaqueiro
Pois não tenho mais emoção,
E só de olhar os matos feios
Se acaba meu coração.