Reencontro

Adianto-me ao tombo certeiro

E às despedidas eminentes

Ao mesmo tempo na janela

Espero a chegada daquela

Que fará meu corpo tremer

Há tanto tempo

Que te reguei de amor

E de surpresas sutis

De afagos, de ternura

De carinhos e desejos

Mas a poeira da estrada

Vai deixando os olhos fechados

E o coração cinzento

E vai esfriando, esfriando

Já doeu, a dor mais forte

Mas hoje não sente

Quase mais nada

E sozinho na multidão

Sigo enrolado nos farrapos

Do tecido do tempo

Embrulhando as migalhas

Do meu coração de pedra

Esfacelada que apanho

Os pedaços no caminho

Agora estou jogado

Aos olhos dos que me enxergam

Como querem

Perguntam por nós

Quando há apenas um eu

Que falo sozinho

Andando nas ruas

Murmurando poemas

Sob os postes defeituosos

E quando bater a saudade

Vou inventar uma estória

Onde tudo termine bem

Quando o sol for embora

E trouxer a tua sombra

Uma réstia na parede da sala

Olharei para as estrelas

Pra cada uma delas

Uma alegria distinta

Não mais te procuro

E nem mais te sinto

Apenas canto um canto solene

Banho-me na água mais limpa

Do açude da memória

Deixo embalar-me

Na doçura do vento

Flutuando pelos campos

Ao som da melodia mais doce

Enquanto espero o momento

Que o deserto verde termina

E encontro no fim de tudo

Quem eu mais esperava

O reencontro consigo mesmo