Quando a morte faz bem

A morte encerra um ciclo,

arremata caminhos conjuntos,

dá um basta no roteiro traçado.

A dor da perda destrona, faz cambalear o chão,

embaralha as sinapses, os gostos, o que se vê,

traz uma raiva enraivecida que finca eterna,

faz a alma sangrar até secar sua alma.

Daí chega o tal tempo, o tal entendimento,

e põe as coisas no lugar, uma a uma,

daí a gente ser dá conta que o mundo não acabou,

que o mundo não era aquele malvado bicho que só

nos fazia mal.

Então, passo a passo, a morte revê seus acordes,

reconsidera seus ritos, refaz seus gritos,

traz à tona certos sentidos do mais agudo aço,

aqueles que se faziam camuflados,

aqueles que se estiravam sem pena da gente.

Assim vai dissipando seu viés enlutado,

vai debandando choros em profusão,

vai deixando de acolher só tristezas infindas.

Daí a morte deixa o campo inimigo, vem pro nosso lado,

de cruel criatura passa a abraçar divinas fagulhas,

de bandido intrépido assume o papel de benfeitora,

de tumor atroz vira mãe carinhosa, perfumada, linda.

Assim a morte desnuda seus verdadeiros vãos,

assim desmascara suas chagas malditas,

assim estanca seus próprios festins.

Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 12/03/2019
Reeditado em 12/03/2019
Código do texto: T6595913
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