Moleque crescido

Por vezes me pergunto

onde foi parar minha alma.

Quem a roubou, escondeu

deportou.

De alma sumida,

fico à mercê de ventos desconhecidos,

que pouco me fazem refastelar,

pouco me tentam à euforia.

Tento resgatar pistas, sons ungidos,

rasgos remanescentes,

em vão.

Dela não restou pegadas,

não restou cheiros,

não restou nada.

Numa tresloucada investida,

clamo aos céus por aquela em que,

outrora, tanto saciei meus ímpetos

de moleque crescido,

só recebendo em troca o

pão do silêncio,

a bênção aguçada da luz.

Daí, por encanto, minha alma

volta á baila.

Foi se embebedar na taverna

das inquietações, junto às demais

almas rebeldes do mundo.

Assim refastelou seus timbres,

desenferrujou seus passos,

desanuviou se chão.

De volta à casa

meus perrengues findaram.

Assim pude morrer em paz.

Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 03/03/2019
Código do texto: T6588327
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