Moleque crescido
Por vezes me pergunto
onde foi parar minha alma.
Quem a roubou, escondeu
deportou.
De alma sumida,
fico à mercê de ventos desconhecidos,
que pouco me fazem refastelar,
pouco me tentam à euforia.
Tento resgatar pistas, sons ungidos,
rasgos remanescentes,
em vão.
Dela não restou pegadas,
não restou cheiros,
não restou nada.
Numa tresloucada investida,
clamo aos céus por aquela em que,
outrora, tanto saciei meus ímpetos
de moleque crescido,
só recebendo em troca o
pão do silêncio,
a bênção aguçada da luz.
Daí, por encanto, minha alma
volta á baila.
Foi se embebedar na taverna
das inquietações, junto às demais
almas rebeldes do mundo.
Assim refastelou seus timbres,
desenferrujou seus passos,
desanuviou se chão.
De volta à casa
meus perrengues findaram.
Assim pude morrer em paz.