MEU NOME É SÔNIA
CAPÍTULO I - CURIOSIDADE
Que alegria imensa ver o Portal de Sonhos e Magia tranquilo.
É mesmo, Fada Arco-Íris, isso ultimamente é uma raridade.
Aproveitando a serenidade, posso lhe fazer uma pergunta, Grilo?
Claro que sim... caso eu saiba responder... fique à vontade.
Você me disse que já fora gente e um deus lhe transformou em grilo.
Por acaso você tem vontade de voltar a ser homem novamente?
Sabendo de sua estória, trago um segredo que mantenho em sigilo.
Fada Arco-Íris, não vai me dizer que você tem vontade de ser gente?
Não é que seja uma aspiração, mas sim uma grande curiosidade.
Amigo, vou lhe fazer outra revelação sem nenhuma parcimônia.
Se eu fosse gente, sabe que nome próprio assumiria de verdade?
Querida Fada, não tenho se quer noção de qual nome você desejaria.
Grilante, no mundo dos humanos, o nome que mais gosto é Sônia...
Oh, o nome que escolheu etimologicamente é russo e significa sabedoria.
CAPÍTULO I I – QUEM SERÁ O RESPONSÁVEL POR ISSO?
De repente a Fada Arco-íris olha para o seu amigo Grilante e fica assustada.
Não tenha medo, Fada Arco-íris, sou eu Grilo Falante, a quem chama de Grilante.
Como é possível? Você não é mais inseto! Você agora é gente! Estou assustada!
Prepara-se para ficar mais assustada. O Grilo me passa um espelho nesse instante.
Que horror! Virei gente! Não pode ser! Quem me fez tal maldade? A Fada chora.
Foi você, Grilante! Quem além de você sabia que eu desejava virar ser humano?
Pronto! Já sei como é ser gente! Obrigada! Desfaça o que você me fez, agora!
Jamais a transformaria em qualquer coisa ou ser sem sua aprovação. comete um engano!
Então, Grilante, é um daqueles deuses egípcios ou gregos que não lhe deixam em paz!
Pare de chorar, Fada Arco – Íris, e mantenha a calma. Não pedi nada a deus algum.
Olhe para minha roupa! Ela demonstra que sou um sacerdote de Apolo, deus capaz
de dar aos seus mais nobres sacerdotes o dom de adivinhar o presente, passado e futuro.
Vamos a um templo grego dedicado ao Apolo e o oráculo nos dará a resposta sem zum-zum.
Certo, Grilante! Vamos atrás do responsável! Tal atitude sem minha permissão, eu censuro.
CAPÍTULO III – MEU NOME É SÔNIA
Na minha forma humana sou sacerdote de Apolo Teófilo é assim que você deve me chamar.
Fada Arco-Íris, aqui não sou Grilo falante ou como meigamente você me chama de Grilante.
Entendeu! Quando se dirigir a mim, chama-me de Teófilo! Disto você tem que lembrar!
Compreendi, Grilante! Perdão! Teófilo. E eu? Que nome serei chamado nesse instante?
Você escolhe. Tenho certeza que já o têm. Isso mesmo Gri... Teófilo! Meu nome é Sônia.
Como você é meu grande amigo, pode me chamar de Soninha. Ah, que lindo! Adorei!
Vamos consultar o oráculo. A resposta será rápida. Conheço e já realizei tal cerimônia.
Você já disse isso, Gri... Teófilo. Eh! Que tudo isso aconteceria comigo, jamais imaginei!
Teófilo realiza todo o ritual com muita precisão e Sônia observava tudo atentamente.
Na pira do templo surge um nome que com muito custo conseguiu ler, mas não entendeu.
Terminando a consulta ao oráculo, Sônia corre rápido até seu amigo Teófilo avidamente.
Gri...Teófilo, sei que está exausto, mas você sabe quem fez tudo isso? Essa palhaçada?
Durante o oráculo surgiu um nome no fogo da pira. Diga-me que nome foi. Mordeu
Ou Morreu, isso foi que eu li, Gri... Teófilo. Custei a ler, a fumaça estava embaraçada.
CAPÍTULO IV – OUROBORO
Vamos sentar naquelas cadeiras e pensar no nome que surgiu na pira. É nossa única pista.
Peguemos o verbo morder. Ele está no passado. Significa que o sujeito realizou tal ato.
Quem mordeu? Mordeu o quê? Na pira do templo surgiu uma palavra somente, haja vista.
Por Ser uma palavra significa que mordeu a si mesmo. Seria um autoflagelação de fato?
O animal que devora a si mesmo na mitologia chama-se ouroboro. Ele está em várias religiões.
Ela representa o universo, o olhar para si mesmo, a evolução, a criação da terra, a eternidade.
Não estou entendendo nada, Gri...Teófilo! Prepare os ouvidos! Estou cheia de indagações!
Vamos lá! Ouroboro é uma serpente que morde incessantemente própria cauda. Na verdade,
Oura é palavra grega que significa cauda, enquanto que boro também em grego é morder.
Talvez a mensagem que o deus Apolo queira passar é que tudo isso é para sua evolução,
Onde durante o caminhar, você refletirá o seu início e a formação completa do seu ser.
Ao abandonar sua condição de fada, você está vivenciando uma nova experiência de vida.
Será um aprendizado pelo universo com um sabor de eternidade cada aprendizado ou lição.
O seu destino agora é esse: percorrer seu caminho na forma humana, eis a sua nova lida.
CAPÍTULO V – GRANDE FALTA
O caso todo muda de figura se o verbo for Morrer, embora esteja também no passado.
A palavra morrer está relacionado a dois deuses: Tânatos, a personificação da morte;
Já Hades é o deus do inferno grego, para onde vão as almas depois de tudo consumado.
Gri...Teófilo, não está querendo dizer que vou morrer, não é certo? É de todos a sorte...
Não fique triste, querida Soninha, porque está completamente errada na sua leitura.
A morte, simbolicamente falando, também pode significar ausência de ou grande falta.
Pense comigo: o que está ausente em você? O seu pequenino corpo de fada, criatura!
Agora você habita um corpo de gente. É este novo corpo que o verbo morrer exalta.
Resumindo Gri...Teófilo: viver uma vida nesse corpo humano e agora a minha nova sina.
Eu não viverei mais como uma fada, deixei de ser uma criatura do mundo encantado.
Serei um ser mortal, só atingirei a imortalidade agradando os deuses na minha rotina.
Tânatos, Hades, Ouroboro? Gri...Teófilo, quais destes deuses que me deixou assim?
Acho que Hades ou Tânatos, porque são eles a quem o óbito está plenamente creditado.
Ouroboro sei que não é, pois representa a evolução, a eternidade, ou seja, algo sem fim.
CAPÍTULO VI – INICIAIS MAIÚSCULAS
Gri...Teófilo, obrigado por responder as minhas perguntas. Agradeça por mim ao oráculo.
Depois de tudo esclarecido, veio à mente um detalhe que agora é completamente inútil.
Os verbos morder ou morrer estavam com as iniciais maiúsculas, violando o nosso vernáculo.
Por que não me disse isso antes, Soninha? Essa informação é muito importante e não fútil.
Por que disse que tais palavras violaram nossa língua com letras maiúsculas nas suas iniciais?
Gramatica, Gri...Téofilo! As palavras com iniciais maiúsculas são para nomes próprios usadas.
Isso mesmo! Segundo a gramática, iniciais maiúsculas são nomes de pessoas... e tem mais!
Nomes de cidade, países, estados, ruas, bairros, rios, etc. são com iniciais maiúsculas grafadas.
Reforçando: os substantivos próprios dão nomes dentro de uma espécie a um ser específico.
Exemplo: país, nome de uma espécie; Grécia é nome do ser específico de uma espécie. Certo?
Morder ou morrer são verbos palavras que indicam ação, jamais nome de um ser. Magnifico!
Ao jogar para mitologia, substantivo próprio também dá nome a um deus, Soninha. Percebeu?
Na fumaça da pira não surgiu verbo e sim o nome de deus. Gri...Teófilo, você é muito esperto!
Não é Tânatos, Hades, é um deus cujas rimas são com verbos que você citou. Já sei! Morfeu!
CAPÍTULO VII - O DEUS MORFEU
Consoante a mitologia grega, Hipnos é deus do sono. Tem três Filhos. Um deles é o Morfeu,
que é deus dos sonhos noturnos e bons. O nome Morfeu é vem da seguinte palavra helênica:
Morfo em grego significa forma. Detalharei mais porque percebo que não me entendeu.
Morfeu adota forma humana pra entrar nos sonhos de pessoas sem deixá-la neurastênica.
Daí a expressão “estar nos braços de Morfeu”... isso quer dizer um sono tranquilo, reparador.
A mitologia descreve Morfeu com grandes asas que dava a ele velocidade em movimentar;
assim ninguém perceberia o movimento dele. É deus bom, mas um dos irmãos é assustador;
chama-se Ícelos , deus do pesadelo, de preferência aquele que faz o cabelo da gente arrepiar.
Morfeu mora numa caverna cheia de semente de papoulas, com uma cama de ébano decorada
de flores. A mãe dele é do bem, chama Pasiteia. Ela é a deusa do descanso, do relaxamento.
Gri...Teófilo, fecharei minha boca, pois cada vez que falo algo, você põe um deus na jogada.
Estou muita confusa. Qual das versões é correta? Do Ouroboro? De Hades ou do Morfeu?
Soninha, não a responderei com acidez a qual você me dirigiu. Eu entendo seu afobamento.
Meu amigo sacerdote, perdão. Não queria magoá-lo. Você me perdoa? Sim? Obrigada,Valeu!
CAPÍTULO VIII – CHAMADA NA CHINCHA
A análise correta é a última. Você não está sofrendo não está num umbral, nem mesmo morta.
Você está bem, não passa por nenhuma adversidade, catástrofe, dor ou alguma doença grave.
Passamos por uma antropomorfização sem teu consentimento. Tal atitude você não suporta...
Seu desejo é de chegar ao responsável e cobrar dele a resolução definitiva desse nosso entrave.
Ao invés de você aproveitar cada momento e curtir a sua vida na condição de ser humano,
você quer que simplesmente que um deus siga a sua vontade e não o desígnio que ele traçou.
Você não é uma deusa e sim um ser do mundo encantado. Afrontá-lo seria entrar pelo cano.
Deixe o seu orgulho de lado e vamos viver bem, conforme aquilo que Morfeu nos planejou.
Você não está no seu lar, o Portal dos Sonhos e magia, mas sim na Grécia antiga.
Você não está sozinha e sim com o seu amigo Grilante e agora vive no meu mundo.
Já que eu conheço o local em que estamos, não há por que ficar assim, minha amiga.
Você me confidenciou que queria viver como ser humano e de ser chamado de Sônia.
Eis o seu desejo sendo realizado, não por uma fada e sim por um deus grego num segundo.
Viva o seu sonho completamente, perdoa-me o trocadilho e o clichê, sem nenhuma cerimônia.
CAPÍTULO IX – O DEUS DO SONO
Gri...Teófilo, obrigada por me abrir os olhos. Não é à toa que você é meu grande amigo.
Eu devo aproveitar essa oportunidade única que estou tendo de viver na forma humana.
Sem querer ser inconveniente, desejo agradecer o Morfeu pessoalmente. Há algum perigo?
Como a conheço, recuso dizer que uma oração ao deus Morfeu daria o mesmo efeito bacana.
Sendo sacerdote, conheço todos os Deuses mitológicos. Levá-la ao Morfeu não será empecilho.
Chegando ao lar do deus do sono, Sônia fica atônita com o que vê na cama de ébano florida.
Como posso estar naquela cama se estou aqui e mal acabei de chegar? Não é nenhum codilho,
Sônia - disse outra Sônia, levantando-se da cama e voltando para a sua forma original de vida.
Morfeu!... Sônia e Teófilo se prostram. Deus do sono, trouxe minha amiga Soninha ao seu lar
porque ela quer pessoalmente lhe agradecer por tê-la transformada em gente, em ser humano.
Pedimos-lhes humildemente perdão pela ousadia de virmos aqui à sua presença sem avisar.
Perdoa-nos, Morfeu, se eu apenas orasse não teria certeza de que minha gratidão chegaria até ao senhor. Como não sou grega, não quis me arriscar... acaba de cometer um grande engano,
Sônia. Qualquer deus recebe e ouvi com muito carinho um pedido feito com coração e muita fé.
CAPÍTULO X – NOS BRAÇOS DE MORFEU
De novo me perdo, Morfeu... não tenho a sabedoria dos deuses e nem de seus sacerdotes.
Morfeu, viverei assim como humana para sempre ou posso deixar de ser assim eu que quiser?
Fique com a segunda opção. Você não é prisioneira. Não tenho maldades algumas em potes.
Para que eu e Gri...Teófilo voltemos a nossa vida normal o que cada um de nós devemos fazer?
Nada! Basta acordar. Assim, Sônia voltará a ser Fada Arco - Íris e o Teófilo seu amigo Grilante.
Entendi certo?! Não passa de um sonho?! Mesmo que seja bom, mas é apenas um sonho...
Contorcendo-se na cama, Fada Arco-Íris acorda, olha para o Grilo de forma terna e inebriante.
Grilante, eu estou no meu quarto e na minha cama. Foi você que me trouxe para cá, suponho.
Não. Não daria conta de realizar tal trabalho, mesmo que quisesse. A fada se surpreendeu.
A gente ficou horas conversando e você pegou no sono. Chamei-a de tudo quanto é jeito.
Tudo em vão. Quem me ajudou, colocando-a no braço e trazendo-a até aqui foi Morfeu.
Você dormiu também ou ficou acordado? Não, não dormi. Não queria deixá-la desprotegida.
O deus do sono mal acabou de sair. Ele foi saindo e você acordando, com a alegria desse jeito.
Grilante, amei esse deus! Ele me deu com presteza uma das coisas que eu mais queria na vida.
O FILHO DA POETISA