AMOR AMORDAÇADO

O amor deles tinha gosto de veneziana,

assim meio franzino, meio alagado.

Fazia sentir seus acordes de lenhador,

seus vinhos ainda por envelhecer,

seus anos anda por digerir.

Era amor falante, traduzido,

recando nas felinas prateleiras do suar,

nas vastas folhagens que, soberbas,

pareciam sorrir.

O amor deles entendia dos lemes,

das rochas, do andar rubro de Mariana.

Talvez Betina, talvez Lucilia.

Era amor amordaçado,

voraz, dilacerado, discutido.

Amor de nau encardida,

de espera bendita,

de chão acordado.

Amor de Vera, de Soraya, de Etthel.

Mas, pasme, vinha mambembe

e cabisbaixo num enterro sem morto,

num gozo sem pena,

num voltar sem perdão.

Amor vira-lata, vira-mundo,

vira-céu.

Diante dele me descarto,

todo, pleiteando paz.

Diante dele, vou à luta

de peito sangrando e alma puída.

Até sempre, até sempre, até sempre.

Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 17/02/2019
Reeditado em 17/02/2019
Código do texto: T6577358
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