No ventre das palavras

Cavo as palavras, como quem lavra a terra

Busco no centro da terra umidade e fertilidade pra germinar a semente

Revolvo a terra das palavras com ansiedade, agitação, inconformismo

E descubro no seu âmago um sentido germinal

Choro sobre as palavras e torno-as mais úmidas, mais frescas, mais viçosas

Rio das palavras e torno-as irônicas, maliciosas, alegres , cândidas,

Doces palavras me acompanham,

Pedras palavras são atiradas em mim

E passam raspando a minha cabeça de sonhos,

Mas não os acertam,

A terra das palavras é fértil

Redobro meus cuidados:

Ela também é sutil e ardilosa

Me põe em ciladas

Cruelmente me tortura, me fere, me corta a carne e

Me deixa nua, violenta minha verdade

Acidentalmente,

Me põe na rua

A semente da palavra me redime

Brotam novas folhas, surgem outros frutos, crescem em outras direções,

Nem sempre aceitam podas, as vezes são ervas daninhas,

No entanto podem salvar, curar feridas, apascentar loucuras,

As palavras chovem, choram, brincam e fazem sombra pra mim.

Deito-me sobre suas redes e descanso enfim

No ventre das palavras.