Por que não paras?
Corro; corro; as minhas pernas levam-me errante:
Sem caminho; sem meta; sem nada.
Apenas corro por ter necessidade de correr.
Vivo por ainda ter sede de vida:
Beber da fonte límpida que jorra do seio doce
Em nossa boca machucada e faminta.
Nos pés encontram-se ternas bolhas
E tenros espinhos agudos.
Se caminhei por descaminhos pelos quais ao nada cheguei,
Ao menos, em mim os levarei.
Corro; corro; não por vontade, mas eis, aqui, a necessidade.
Cuida-te, Pélida de rápidos pés,
Como gostaria de alcançar-te
E se preciso enfrentaria Ulisses e a muralha Ajax,
Somente por teu sapato. Usas-te sapato?
As minhas velhas botas estão em farrapos;
O meu chapéu de palha escusa-se de ser chapéu;
O gibão-de-couro, como uma couraça, está intacto.
Água; água; vejo água.
Acelero o passo quero chafurdar-me no gozo molhado
Quanto mais me aproximo dela mais ela dista
Sou a lebre sempre a perder da tartaruga:
Vós sois as tartarugas, homens lesmas.
Quando, finalmente, alcanço a fonte líquida.
Nada mais dela brota. Resta apenas o barro.
Recolho com as próprias mãos o sangrento barro.
Levo-o a minha boca. Como-o como um selvagem.
Bebo-o violentamente. Sou barro!
Continuo a corrida, não posso parar,
Mesmo que o sol tente petrificar-me,
Corro, corro...