Hoje

Como fazer um poema

Co’a mão trêmula de medo,

Nos observam em segredo.

Cães de farda e algema

Engastaram desespero

Ao poeta do desterro.

O canário que canta

A melodia com dor tanta,

Na gaiola, berro lança:

- Se te espanta co’a força

D’um frouxo louco piar,

Verás o que sou no ar!

Das trevas ousei voar,

A luz do luar me guia.

A São Jorge fiz magia:

Não me apego muito a santo

No entanto, co’a espada

Sua, calarei o vão pranto.

Ó medo, em teu palácio,

Irei, com ferro, adentrar;

Verás me co’a flor do lácio

No chapéu, cruzar o mar.

Não caminho só: o povo

Será o senhor do novo.

Nossa língua é farol

De esperança, que lança

As luzes do arrebol

Sobre o mau ditador

Que muito enche a pança,

Tirando do trabalhador.

Se te chamam messias,

Deves já ir ao calvário.

A ideia que tu tecias

Tem na morte corolário;

Não há para ti perdão,

Por ti roga o ferrão.